Dicas para fugir de franquias amadoras

Empreender é o desejo de milhões de brasileiros. Contudo, para que se consiga sucesso na empreitada, não basta apenas a boa vontade ou a necessidade. É preciso estar atento às oportunidades, tendências e, principalmente, ao perfil de negócio no qual se pretende ingressar.

Para marinheiros de primeira viagem, o universo das franquias figura sempre como uma alternativa atraente, já que, geralmente, o caminho para ter o próprio negócio fica mais simples, pois as marcas já possuem renome, modelos testados, suporte por parte da franqueadora etc. Somente no Brasil, mais de 3 mil empresas replicam seus modelos por meio do franchising. Esse é o número divulgado pela ABF (Associação Brasileira de Franchising), mas é possível afirmar que o total de redes seja muito maior. Por isso, a escolha da franquia ideal nem sempre é tão fácil.

O Portal TOP Franquias entrevistou diversos consultores para reunir dicas para que candidatos evitem ao máximo a entrada em redes que apresentam amadorismo e, consequentemente, maior ameaça de insucesso.

Segundo o especialista Paulo Cesar Mauro, um dos pioneiros do franchising brasileiro e presidente da consultoria Global Franchise, há diversas marcas que sequer testaram seus modelos de negócio e passaram a franquear. “Quem não tem história, certamente apresenta maior risco. Redes consolidadas no mercado oferecem mais segurança. Mesmo assim, algumas se acomodam e perdem competitividade”, alerta.

Consenso entre os entrevistados é a necessidade de transparência por parte das franqueadoras. Para os especialistas, é crucial que se coloque à mesa todas as informações para que o interessado possa avaliar. “A franquia que não é transparente é a maior inimiga do futuro empreendedor. É preciso evitar aquelas franquias que escondem informações básicas, que não devem ser confundidos com informações consideradas confidenciais, ou que querem determinar cláusulas oralmente, fora do escopo do contrato”, afirma Gabriel Di Blasi, diretor jurídico da ABF-Rio.

Por mais que o sistema ofereça mais segurança, são muitas as empresas que não possuem estrutura para proporcionar apoio aos franqueados, seja por ainda serem novas e menores, seja por amadorismo, ou até por desinteresse nas boas práticas que são desejáveis a franquias de quaisquer segmentos.

Franquias baratas, muitas vezes, causam desconfiança pelo fato de gerar pouco retorno e de não proporcionar rendimento suficiente para que a franqueadora consiga se manter. O consultor Marcus Rizzo, da Rizzo Franchise, é um dos que acreditam que opções de negócios com baixo investimento podem ser mais arriscadas. “Quanto mais reduz o investimento, aumenta a necessidade de engajamento do franqueado. Conseguir combinar baixo investimento com alto engajamento não é impossível, mas muito difícil”, avalia. Pedro Almeida, da Franchise Solutions, segue a mesma linha. “Quanto mais barata é a franquia, menos ela entrega. Isso acontece porque a franqueadora não terá estrutura para entregar o que deveria, e muitas vezes até teria capacidade, porém, não terá estrutura física, corpo de profissionais para não só vender, mas instalar e cuidar das franquias instaladas. Isso tem custo”, finaliza.

Porém, é importante salientar que nem sempre é isso que ocorre. Alguns especialistas acreditam que há negócios que exigem valores menores que podem ser interessantes. “O valor a ser investido não quer dizer nada no franchising. Temos boas opções com baixos investimentos e boas opções para se trabalhar em casa. Tivemos um grande crescimento neste tipo de mercado nos últimos 12 meses”, pondera Gabriel Alberti, do Grupo Pillalberti.

Do que desconfiar?

Embora o sistema de franquias ofereça mais segurança em relação à abertura de uma nova empresa por conta própria, é necessário ter cautela e ficar alerta a alguns sinais que podem identificar uma franquia de credibilidade. “É preciso desconfiar quando o processo de venda de franquias fica apenas na mão do vendedor de franquias. Nos franqueadores mais sérios, a seleção também passa pela avaliação de gerentes e diretores da rede, envolvendo todas as áreas do negócio. Também preste atenção nas redes que desejam fechar muito rápido a negociação”, antecipa Luis Henrique Stockler, sócio-presidente da ba}STOCKLER. “Além do mais, atente para colocações como ‘se não fechar agora, terei de oferecer para outros candidatos’. A urgência de vender nem sempre é um bom sinal. Geralmente, o franqueador mais exigente e que avalia melhor o perfil do candidato, é melhor parceiro. Com estes, o candidato tem menos chance errar e entrar em uma rede sem estrutura”, completa.

Outro ponto levantado pelas fontes consultadas pelo TOP Franquias é sobre o histórico de fechamento de unidades da rede e de ações contra a franqueadora. Para muitos deles, o fato de haver ex-franqueados que entraram na justiça contra a empresa não é necessariamente um fator que deva levar à decisão por não optar pela entrada na rede, mas um ponto a mais a ser pesquisado pelo candidato. “Estas ações devem ser avaliadas pelo candidato diretamente com aqueles franqueados que promoveram a ação. Pode acontecer de o candidato não achar relevância que justifique ele não entrar no negócio”, explica Rizzo. “Há casos de franquias que apenas cometeram erros no passado e passaram a adequar suas posturas para refletir as exigências legais, ou mesmo há casos em que os franqueadores não possuem base legal para seus pedidos na justiça. Contudo, há que se atentar para franquias que possuem um alto número de processos contra, podendo talvez indicar reiterada conduta indevida. Por isso, é altamente recomendável que o franqueado procure se informar sobre o histórico da franquia que deseja se tornar franqueado e contrate um advogado especializado para que ele possa lhe assistir nessa investigação e na representação com o franqueador”, complementa Di Blasi.

Franquia perfeita?

Quando questionados sobre a existência da franquia perfeita, todos os entrevistados foram enfáticos na resposta: não há nenhuma rede de franquias que tenha alcançado a perfeição e que não ofereça nenhum risco de investimento. “Infelizmente, a resposta é não. Além disso, uma franquia pode ser excelente para uma determinada pessoa segundo seu perfil e péssima para outra, justamente pelo mesmo motivo. Importante que o candidato entenda o que será exigido dele se for franqueado de uma ou outra rede e a capacidade de ser feliz e viver bem atuando como a franquia exige. Se o franqueado não pretende dedicar seu tempo e energia integralmente ao negócio, mas ter um sócio ou gerente à frente e controlar o negócio à distância deve deixar isso claro para o franqueador, ser transparente. O candidato não deve cair na tentação de tornar-se franqueado de uma rede que exige dedicação integral se não pretende esforçar-se dessa forma, pois, nesse caso, a relação de franquia já começará fadada ao insucesso”, ressalta Patricia Gonzalez Baubeta, da Baubeta Abreu e Almeida Sociedade de Advogados.

Falha na entrega

Se o franqueado perceber que o dia a dia do negócio é diferente daquilo que lhe fora apresentado antes da compra da franquia e que a franqueadora não entrega o prometido, como suporte e marketing, por exemplo, é aconselhável que se evite extremidades, como a rescisão de contrato de imediato. “O franqueado deve abertamente tentar resolver os problemas com o franqueador. Em seguida, se não conseguir chegar a um bom termo, denunciar a franqueadora para o comitê de ética da ABF (caso ele seja associado), e buscar os direitos na justiça, se achar necessário. Se não for associado, tente a negociação primeiro e, se não surgir efeito, deve buscar os direitos na justiça”, indica Stockler.

Em suma

Para finalizar, o ideal é que o candidato a ingressar em qualquer rede de franquia faça pesquisas relevantes, conheça o histórico da franqueadora, converse com franqueados e ex-franqueados da marca, leia atentamente a Circular de Oferta de Franquia (COF), conte com auxílio de consultores e advogados, não tente agilizar o processo da compra e, acima de tudo, não acredite que promessas de faturamento desproporcional ao que será investido. Franquias de sucesso são reconhecidas por suas boas práticas, notáveis e fáceis de serem identificadas na comparação com redes de franquias aventureiras.

 

Siga esses passos antes de abrir uma franquia

  • Entre em contato com a franqueadora e avalie o primeiro atendimento
  • Forneça as informações solicitadas somente se houver real interesse em seguir
  • Agende um encontro pessoalmente com os responsáveis pela franquia
  • Converse com franqueados atuais e ex-franqueados. A franqueadora deve disponibilizar esses dados na COF
  • Visite unidades da rede
  • Se possível, peça para realizar um test drive, pelo qual você irá verificar o negócio na prática
  • Avalie o contrato com auxílio de um especialista