Modismo nas franquias: como resistir e crescer?
Uma coisa não podemos discutir: o brasileiro gosta de novidade. Basta um produto fora do convencional ou até mesmo um serviço diferenciado ser lançado no mercado e as pessoas logo querem experimentar. Não podemos negar que, de certa forma, a curiosidade dos brasileiros é responsável pelo crescimento de muitos negócios, que aproveitam a oportunidade de atrair consumidores ávidos pelo inédito. A jogada parece dar certo, ao menos por um período. Os números positivos do faturamento repentino revelam que o modelo de negócio focado na peculiaridade parece ter agradado uma multidão de clientes, mas, no final das contas, e os investidores, como ficam?
É comum algumas marcas se aventurarem no mercado colocando à disposição do consumidor receitas mirabolantes e fórmulas que enchem os olhos num primeiro momento. Nos últimos anos, pôde-se acompanhar um boom de redes de franquias oferecendo produtos e serviços diferentes e até únicos. Porém, mesmo que os números apontem alta e seja um atrativo para novos investidores, convém questionar: qual a vantagem de investir em um negócio que está na moda e naturalmente ativa a curiosidade das pessoas? Será ela uma onda curta ou duradoura?
“Uma das vantagens (em abrir um negócio considerado modista) é que os produtos geralmente são únicos, ou seja, o mix de produtos a ser comercializado é pequeno. Existe uma facilidade na operação, tanto no estoque, como no preparo e comercialização. Por outro lado, uma das desvantagens é que alguns desses produtos saem de moda muito rapidamente e, se a franqueadora não estiver antenada e apresentar opções que continuem atraindo o consumidor, pode haver um elevado número de fechamento de unidades. São casos de lojas que, infelizmente, não duraram muito, como as paletas mexicanas”, avalia Marina Bechtejew, especialista em franchising e sócia na NB Advogados.
Sustentando o título de pioneira quando o assunto é o de paletas mexicanas no Brasil, a rede Los Paleteros, fundada em 2012, atraiu multidões quando lançou um novo conceito de picolé: maiores do que os tradicionais sorvetes no palito e com diversas opções de sabores e recheios. Em poucos meses, a marca ganhou fãs em todo o país e, de quebra, chamou a atenção de novos empreendedores, criando uma enorme concorrência. “Identificarmos mais de duas mil cópias do nosso conceito. Lançavam sorvetes quadrados e os chamavam de ‘paletas’, mas somente nós temos a marca registrada. Tem empresário que acha é uma mina de ouro e lança a cópia (das paletas), o que atrapalha e estraga o mercado”, aponta Gean Chu, sócio fundador da empresa que, em 2015, anunciou a abertura da centésima unidade, na capital fluminense. Hoje, contudo, a franqueadora afirma ter 24 operações, apresentando um percentual expressivo de fechamentos.
A expectativa de Chu é que mais 20 pontos sejam inaugurados até o final de 2018. Para se manter no mercado e tentar retomar o crescimento, o executivo revela que dez a 20 novos sabores são lançados anualmente. Além disso, a união com outras marcas conhecidas faz parte da estratégia atual. Recentemente, firmaram parceria com a Nutty Bavarian e com a Cartoon Network, por exemplo. “Soubemos fidelizar o consumidor com produtos de qualidade, o que nos mantém como pioneiros no segmento. Temos margem para crescer ainda mais”, ressalta o empresário.
Outra marca que surgiu com um produto inovador e tem chamado a atenção dos consumidores é a Bubble Kill. A rede oferece chás taiwaneses com bolinhas de alga marinha, que, ao entrarem em contato com o calor da boca, estouram, liberando o gosto da fruta contido em seu interior. A ideia parece ter agradado, mas o tempo irá ditar se haverá necessidade de renovação do mix de produtos ou não. “Ao identificarmos o sucesso nos países asiáticos, apostamos na aceitação do público brasileiro, que ansiava por uma bebida nova, diferenciada e criativa, que inspirasse os sentidos”, explica Mr. Shuzi Gao, CEO da Bubble Kill.
Com apenas um ano, são cinco unidades próprias e 42 franquias divididas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Para este ano, os planos são ambiciosos: abrir 100 novas lojas em todo o território nacional.
O segmento de alimentação não é o único que conta com modelos de negócios considerados “da moda”. Sucesso em décadas passadas, as barbearias voltaram com força total ao cenário nacional e, hoje, é possível encontrar diversas redes que oferecem os serviços antes exclusivos de pequenos espaços aos cuidados de um senhor de idade, o barbeiro. Atentos a isso, salões especializados em beleza masculina têm se tornado cada vez mais comuns, chegando com potência ao mercado de franquias.
Rodrigo Guimarães, que fundou a rede de franquias Club Men Salon em 2014, descarta o rótulo de “modista” ao justificar que a marca oferece um clube de vantagens para fidelizar os clientes, além brindes funcionais e promoções em cinemas, teatros, shows e até jogos de futebol. “Não nos consideramos moda, pois isso é algo que sai de cena. De fato, houve um boom de barbearias, mas agregamos outros serviços além da beleza e vaidade. Isso é um avanço e não dá para voltar atrás. Seria um retrocesso. Foi uma conquista para o público masculino se livrar de rótulos e preconceitos”, avalia. Atualmente, são nove unidades em operação e a meta é dobrar o número de pontos até o final do ano.
Alguns consideram a recessão econômica um bom momento para se tornar dono do próprio negócio e não descartam apostar as fichas em uma rede de franquias que esteja em alta. Mas, procurar por uma marca que tenha um produto diferente, analisar a concorrência dentro do mesmo segmento e comparar com a quantidade de potenciais consumidores em sua região são outros pontos importantes que precisam ser levados em consideração antes de definir a escolha.
“Normalmente, os produtos ‘modistas’ chamam a atenção dos consumidores e, por isso, o negócio acaba se tornando atrativo. É importante que o candidato eleja uma opção que tenha uma durabilidade maior e uma rede que já esteja mais consolidada e que saiba como continuar atraindo e fidelizando o cliente”, finaliza Marina Bechtejew.