Afinal, quem deve selecionar os fornecedores do franchising?
Diante da crise econômica que assola todo o Brasil, o mercado de trabalho apresenta cada vez mais um alto índice de desemprego. Segundo o IBGE, atualmente quase 13 milhões de brasileiros estão sem ocupação, fazendo com que muitos optem por empreender, tornando-se donos do próprio negócio. Entre as variadas opções, grande parte dos novos empreendedores decide investir em franquias, já que neste modelo existe todo um suporte pré-estabelecido e o futuro franqueado adquire, além do direito de uso da marca, o know-how de quem já testou todos os detalhes do negócio.
Entretanto, para que cada franquia funcione dentro dos conformes, é necessário contar com serviços e produtos de diversos fornecedores, que proporcionam um apoio além do disponibilizado pelo franqueador a seus franqueados. As necessidades são as mais variadas, como arquiteto, consultoria, escritório de contabilidade, agência de comunicação e marketing, desenvolvedor de softwares, entre outros.
Segundo a consultora Naiara Correa, CEO da Lemon & CO Incubadora de Franquia, a franqueadora é sempre responsável por dar suporte ao franqueado, mas o que ocorre muitas vezes é uma flexibilização quanto ao uso de fornecedores locais. “A maioria das franqueadoras deixa livre ao franqueado a escolha do empreiteiro ou empresa que realizará as obras de instalação, até porque, muitas vezes, o franqueado pode conseguir negociações melhores. Outro exemplo é o contador, que também deve ser uma escolha livre a quem deva designar a parte financeira-fiscal de cada unidade”, afirma.
A especialista em franchising Milena Lidor, diretora da Franquear Consultoria, reitera sobre a responsabilidade da franqueadora em dar suporte ao franqueado. Porém, segundo ela, mesmo que o franqueador não possa resolver todas as questões para o franqueado, tem o dever de orientá-lo. “Caso o franqueado tenha, por exemplo, um problema jurídico na franquia, não é responsabilidade da franqueadora resolver o caso, mas tem quase que por obrigação orientar o advogado local quanto a essas necessidades, como deve ocorrer também com o contador. Outras necessidades do franqueado, como comunicação, publicidade ou projeto de arquitetura devem obrigatoriamente serem executados pela franqueadora diretamente”, explica Milena.
As consultoras explicam ainda que o franqueador pode exigir fornecedores específicos a seus franqueados em qualquer região onde vá instalar uma nova unidade, porém, dão o suporte necessário e costumam desenvolver alguns fornecedores parceiros regionais. Outra prática comum das franqueadoras é desenvolver fornecedores que consigam atender logisticamente todas as regiões. Também existem situações em que, mesmo estando distante de onde a franquia se instalará, o franqueador exige que o franqueado use um fornecedor homologado pela rede. “Por exemplo, materiais como sacolas, caixas e embalagens de produtos, quando produzidas de forma centralizada podem gerar melhor custo-benefício para rede. Este, inclusive, é um dos benefícios de participar de uma rede de franquias – aproveitar as negociações compartilhadas para compra de insumos da operação”, explica Naiara.
Um fornecedor que geralmente é escolhido pelo franqueado é a empreiteira que realiza as obras. Milena explica que, geralmente, os projetos são realizados de forma individualizada, com informações que o franqueado envia do local. “Com essas informações, o arquiteto homologado da franqueadora executa o projeto e envia ao franqueado, que precisará contratar um profissional próximo para acompanhar a obra e executar o projeto na íntegra”.
Contraponto
Diferentemente de Milena Lidor e de Naiara Correa, o consultor Marcos Rizzo, da Rizzo Franchise, defende menos flexibilidade. Para ele, o franqueado deveria ter total respaldo do franqueador, até mesmo em questões como fiscais, jurídicas, comunicação, publicidade, projeto de arquitetura, entre outras. “Se assumimos que o papel do franqueado é estar dentro do negócio, entendo que todos os fornecedores da implantação até sua operação deveriam ser negociados e licenciados pelo franqueador. Além de manter o padrão da rede, também deixaria o franqueado focado na operação da franquia. Um exemplo: ao ter o serviço de contabilidade padronizado e licenciado para contadores próximos a cada franquia, seria possível orientar o franqueado através do DRE dos custos, receitas e despesas, promovendo uma maior saúde financeira para a rede”, explica.
Rizzo também alega que nenhum arquiteto ou construtor local poderia contribuir mais do que o próprio conhecimento acumulado da franquia em questão. Por isso, teria que ser do franqueador o dever de colocar à disposição um só serviço de montagem e instalação para todos os franqueados. “Lembrando que todas vezes que você contrata um profissional local para projetar ou mesmo instalar, sempre ouvirá algo do tipo ‘aqui não fazemos assim”. Isso leva a toda a deformação que temos nas redes hoje”, completa.
Na prática
Tendo uma franquia do segmento alimentício como exemplo, é essencial que a franqueadora tenha ao seu lado fornecedores bem estruturados e com condições de atender toda rede em território nacional sem que coloque em risco a qualidade dos produtos oferecidos, mesmo em períodos mais críticos, como na entressafra, em que a empresa precisa ter um bom estoque para garantir o abastecimento. É o que afirma Lucas Biazon, diretor de expansão da Khea Thai, franquia de restaurantes especializada em culinária tailandesa. De acordo com ele, a franqueadora tem por obrigação providenciar ou indicar os parceiros, pois só assim é possível manter um padrão na rede. “No caso da Khea Tai, 80% de tudo que é vendido nas unidades é fornecido pela própria franqueadora através dos kits que chegam para os franqueados prontos e porcionados. Somente as bebidas e a parte de hortifruti são compradas diretamente dos fornecedores homologados e esses atendem aos pré-requisitos da franqueadora. Um dos grandes desafios de qualquer rede de franquia é manter o padrão em suas unidades franqueadas”, frisa Biazon.