Tubarões do Shark Tank Brasil dão dicas a franquias

Lançado em 2009 nos EUA, o programa Shark Tank ganhou fãs e versões em diversos países. Em 2016, o game show, que apresenta empreendedores – geralmente em fase inicial com seus negócios – em busca de investimentos de novos sócios, ganhou sua versão brasileira. Atualmente, o Canal Sony transmite a segunda temporada tupiniquim, que tem como tubarões – apelido dos empresários que figuram como potenciais investidores – Camila Farani (Gávea Angels), João Appolinário (Polishop), Cristiana Arcangeli (Beauty’In), Robinson Shiba (China in Box) e Caito Maia (Chilli Beans).

Não raro, entre as empresas que são apresentadas com objetivo de conquistar novos sócios estão modelos que já são franquias e outros que desejam franquear seus modelos. Alguns conseguiram atrair um ou mais tubarões, enquanto outros deixam o programa sem o aperto de mão que selaria um acordo.

No caso da Rent a Bag, empresa de aluguel de malas de viagem e de vinhos, que passou a franquear recentemente, a aparição na primeira temporada foi encerrada sem que um tubarão entrasse para o negócio. Com seis unidades franqueadas em operação e uma própria, obteve um faturamento de 270 mil reais em 2016. No programa, os sócios Domingos Coppio e Rosângela Casseano pediram 350 mil reais em troca de 15% de participação, montante que seria investido em propaganda e marketing, crescimento da equipe interna, aumento de estoque de malas e desenvolvimento de software para a rede de franquias.

Após explicarem todos os detalhes, todos os tubarões decidiram não investir, alegando a necessidade de um planejamento mais bem apurado, com revisão dos números, para que o faturamento e o lucro sejam suficientes para manter uma rede de franqueados. “Alguns (tubarões) não tiverem interesse devido ao ramo de atuação da Rent a Bag não ser o foco do investidor. A Camila Farani gostou muito da proposta da Rent a Bag, porém, segundo palavras dela durante o programa, preferia ter entrado no negócio em 2015, quando o valuation era menor. O Shiba, apesar de estar envolvido diretamente com franquias, apenas levou em conta o valor dos royalties cobrados pelo negócio e não considerou a taxa de franquia para retorno do investimento. De um modo geral, o feedback foi muito positivo”, avalia Coppio.

O empresário também acredita que o formato do programa envolve uma situação de negociação praticamente instantânea entre as partes, fazendo com que a avalição dos negócios seja muito superficial. “A decisão de investimento por parte dos tubarões tem que, obrigatoriamente, ter muita sinergia com os atuais negócios de cada um deles. Não havendo essa relação, aumenta consideravelmente a dificuldade de investimento pelos tubarões”, avalia.

A empresa Mana – Conserta para Mulher, das sócias Ana Luisa Monteiro e Katherine Pavloski, também apresentou o negócio aos tubarões durante a primeira temporada. Focada na prestação de serviços de manutenções e reformas realizados por profissionais mulheres, conquistou Robinson Shiba, Cristiana Arcangeli e Camila Farani, que ficaram com 60% da empresa – 20% para cada um deles – por 100 mil reais. A ideia, sugerida pelo fundador da rede China in Box, era franquear o modelo, considerado interessante e com bom potencial de expansão. Contudo, a marca informou ao TOP Franquias que o projeto não avançou e não aderiram ao sistema de franquias.

Papo com tubarões

Para conhecer a visão de quem senta nas imponentes e confortáveis cadeiras, ouvindo e conhecendo novos negócios nos quais podem se tornar sócios investidores, o TOP Franquias entrevistou dois tubarões que atuam diretamente com franchising: Caito Maia, fundador da Chilli Beans, e Robinson Shiba, fundador da China in Box, ambas líderes em seus segmentos.

Caito Maia – Chilli Beans

TOP Franquias – Nesta edição, alguma marca que passou pelo programa te chamou a atenção ou demonstrou potencial de sucesso como franquia?

Caito Maia – A cada programa, somos surpreendidos com empresas que apresentam boas ideias, algumas extremamente inovadoras e com grande potencial de crescimento e expansão. As que mais me chamaram a atenção foram aquelas às que me associei até aqui.

TF – Você entraria como sócio em alguma nova franquia que possa passar pelo programa?

CM – Sem dúvida nenhuma, assim como já fiz. Acho muito importante poder oferecer um suporte para essa galera que está começando, não apenas como investidor – injetando dinheiro no negócio -, mas também como um conselheiro que já passou pelos mesmos desafios e que pode auxiliar com direcionamentos sobre o plano de negócio, melhores estratégias de crescimento, pontos de oportunidade e de atenção.

TF – Na sua visão, quais os passos fundamentais para que uma marca cresça no franchising?

CM – O primeiro passo para o sucesso em qualquer sentido é o proposito e o amor pelo que você faz. Isso te dará forças para alcançar o que deseja e fará com que as pessoas se relacionem e acreditem na sua marca. Como empreendedor, para estruturar uma marca e torná-la franquia, é necessário ter um negócio saudável, com rentabilidade, fluxo de caixa e com metas bem definidas. Isso te dará credibilidade junto aos novos franqueados. Quando já se tem o formato de franquia estabelecido e em pleno funcionamento, é necessário ter uma boa estratégia de suporte e direcionamento para com cada um dos franqueados, entendendo que este cara é dono da marca assim como você e que cada franquia tem suas particularidades que deverão ser observadas e atendidas sempre que necessário. Isso te levará a um negócio de sucesso e com grandes parceiros ao seu lado.

TF – Que dicas pode dar a franqueadoras (ou que desejam se tornar redes de franquias) que buscam ter um “tubarão” como sócio?

CM – Estudem bem o seu negócio, planejem e estruturem seus objetivos, conheçam a concorrência, absorvam boas práticas, sejam otimistas mas mantenham o pé no chão. Conhecer e calcular riscos é uma parte muito importante para o sucesso, especialmente quando você procura um terceiro para investir no seu projeto. Muitos jovens chegam ao programa com excelentes ideias, mas não conhecem os riscos, não planejam bem suas margens de ganho e planos crescimento e acabam não ganhando a confiança e tampouco o investimento de um tubarão.

TF – Como vê o programa no sentido de dar chances a novos negócios/franquias?

CM – Acho que é uma oportunidade única, especialmente para quem está começando e normalmente tem grandes dificuldades para receber recursos de investimento, pois, além dos tubarões que são grandes empreendedores, o programa expões novas e boas ideias. Desta forma, mesmo as empresas que que não recebem investimento têm a oportunidade de expor seu projeto para a audiência e talvez até consegam um apoio externo.

TF – No início da Chilli Beans, você consideraria participar do Shark Tank, caso existisse o formato?

CM – Participaria, sim. Naquela época as coisas eram mais difíceis, e eu quebrei a cara algumas vezes até construir a Chilli e torná-la do tamanho que temos hoje. Acredito que poderia ter sido diferente se eu tivesse o apoio financeiro e o direcionamento de alguém experiente e consolidado.

 

Robinson Shiba – China in Box

TOP Franquias – Considerando as duas edições, alguma marca que passou pelo programa te chamou a atenção ou demonstrou potencial de sucesso como franquia?

Robinson Shiba – Sim. Logo na primeira temporada do programa Shark Tank Brasil – Negociando com Tubarões, investi numa marca chamada provisoriamente de “QG”, uma rede de lanchonetes especializada em produtos com queijo. Eles queriam transformar o negócio deles em franquia e achei a proposta interessante. O conceito grilled cheese (lanches com queijo grelhado) é bastante popular nos Estados Unidos e, tanto eu, quanto o João Appolinário, acreditamos no potencial da marca e aceitamos investir.

TF – Você entraria como sócio em alguma nova franquia que possa passar pelo programa?

RS – Sim, entraria como sócio desde que eu enxergasse possibilidade de sinergia com os meus negócios.

TF – Na sua visão, quais os passos fundamentais para que uma marca cresça no franchising?

RS – Existe um processo natural para o empreendedor que deseja crescer no franchising. Em primeiro lugar, seu negócio precisa ser comprovadamente rentável. É o fator mais importante para uma marca. Na sequência, ao iniciar seu negócio, o empreendedor faz um teste por dois anos, aproximadamente. Se for rentável, ele já vai enxergar uma oportunidade de abrir uma segunda loja. Sendo assim, precisa ter esse potencial de expansão, que também seja comprovado. Por fim, é fundamental a realização de um bom processo de seleção de franqueados, pois o que faz uma marca crescer é a figura desse gestor. O empreendedor não pode vender para qualquer um, precisa ter o perfil adequado para gerenciar o negócio.

TF – Que dicas pode dar a franqueadoras (ou que desejam se tornar redes de franquias) que buscam ter um “tubarão” como sócio?

RS – A busca por um sócio para entrar no seu negócio precisa ter um sentido. Qual a razão para ele estar buscando um sócio? O franqueador precisa enxergar no “tubarão” o que chamamos de smart money. O termo não significa apenas dinheiro. Ele abrange conhecimento, network, contatos etc., fatores importantíssimos que possam agregar ao negócio. Sendo assim, as futuras franqueadoras precisam mostrar e sinalizar que buscam por um sócio que agregue ao seu negócio, e não apenas entre com o capital.

TF – Como vê o programa no sentido de dar chances a novos negócios/franquias?

RS – Eu acho o programa espetacular. O fato dele dar chances a novos negócios/franquias é o motivo pelo qual aceitei participar como “tubarão”. Iniciativas como o programa Shark Tank Brasil são fundamentais para incentivar e promover o empreendedorismo que, na minha visão, é o único caminho para o Brasil sair desse difícil cenário o qual se encontra atualmente. O empreendedorismo gera empregos e, consequentemente, o brasileiro consegue estudar, consumir, adquirir conhecimento etc. Portanto, é a alavanca para o crescimento sustentável do país.

TF – No início da China In Box, você consideraria participar do Shark Tank, caso existisse o formato?

RS – Sim, acredito que poderia participar, sim. Quando iniciei o China in Box, há 25 anos, eu não estava procurando por sociedade, mas por conhecimento. Então, se existisse algum “tubarão” ligado ao franchising, que pudesse me orientar e agregar ao meu negócio, eu certamente participaria do programa.